RSC testa metodologias participativas e qualifica atuação junto a comunidades do Cerrado
A Rede de Sementes do Cerrado (RSC) realizou, nesta quarta-feira (17), a fase de testes das Metodologias Participativas desenvolvidas para orientar sua atuação junto a povos e comunidades tradicionais, rurais e agricultores familiares do Cerrado. A aplicação prática ocorreu em Itacarambi (MG), na Cooperativa do Peruaçu, reunindo cooperados indígenas do povo Xacriabá, extrativistas, agricultores familiares, quilombolas e veredeiros. A iniciativa integra o projeto Governança Feminina.
A etapa teve como objetivo avaliar, validar e ajustar as metodologias à realidade dos territórios, garantindo maior engajamento das comunidades e fortalecendo sua participação nos processos de decisão coletiva. Para a consultora Sirlene Barbosa, responsável pela construção do protocolo, a aplicação em campo é essencial para que o material cumpra seu papel. “As metodologias participativas só fazem sentido quando aplicadas no chão do território. A cada aplicação, elas passam por adaptações para atender às demandas locais, respeitando os tempos, as decisões e a dinâmica de cada comunidade”, explica.
Em Itacarambi, as metodologias foram aplicadas durante a 1ª oficina sobre o Sistema Participativo de Garantia (SPG), realizada no âmbito do projeto Da Terra à Mesa. Com foco no fortalecimento da produção de alimentos orgânicos. Na ocasião, foram testadas duas metodologias: o Desafio do Território e o Jogo de Perguntas e Respostas.
Segundo Sirlene, o Desafio do Território manteve sua estrutura original e contribuiu para ampliar a compreensão coletiva sobre o tema. Já o Jogo de Perguntas e Respostas passou por ajustes metodológicos a partir da escuta dos próprios cooperados. “Na proposta inicial, os grupos sorteavam perguntas e, caso não soubessem responder, poderiam recorrer a um ancião. Neste caso, utilizamos uma metodologia própria, em que optamos por adaptar o formato, permitindo que os cooperados formulassem diretamente suas perguntas”, detalha.
As perguntas partiram das dúvidas e interesses dos próprios participantes, fortalecendo o protagonismo comunitário e qualificando o processo de troca. “Isso fez com que eles decidissem o que perguntar e o que queriam saber. Foi um momento muito rico”, avalia a consultora.
Para Valdomiro da Mota Brito, conhecido por todos como Buda, a oficina foi bem recebida pela comunidade e contribuiu para ampliar o acesso à informação. “O trabalho foi muito bom, teve bastante interação. A metodologia funcionou bem, o pessoal gostou, trouxe mais informação e abriu espaço para tirar dúvidas. A gente se sentiu bem acolhido. Dá para apostar nessa metodologia, porque ela é boa mesmo”, afirmou.
Além de compreender melhor o funcionamento do SPG, os cooperados também aprofundaram o entendimento sobre a relação entre produção orgânica, restauração ambiental e preservação do território. “Eles perceberam que, para conquistar o selo orgânico, é preciso cuidar do território como um todo: da água, das pessoas e das relações comunitárias”, destaca Sirlene.
Mesmo com pequenos ajustes, as metodologias atenderam às demandas da comunidade e cumpriram seu papel de facilitar o diálogo, a participação e a tomada de decisões coletivas. A etapa de testes representa um avanço importante na qualificação do trabalho da RSC junto aos territórios. “O fortalecimento da Rede vem da parceria com as comunidades, do respeito aos seus processos, do engajamento das famílias e da preservação do Cerrado, das sementes e das pessoas”, conclui a consultora.