Projeto Sementes do Cerrado prepara implantação dos Sistemas Agrocerratenses no Assentamento Oziel Alves III
Em parceria com a Associação dos Produtores Agroecológicos do Alto São Bartolomeu (Aprospera), a equipe técnica da Rede de Sementes do Cerrado (RSC), realizou na última semana, uma visita técnica para acompanhar o preparo de áreas para a implantação dos Sistemas Agrocerratenses (SACEs) no Assentamento Oziel Alves III, em Planaltina de Goiás. As ações fazem parte do projeto “Sementes do Cerrado: caminhos para o fortalecimento da cadeia de restauração ecológica inclusiva nos corredores da biodiversidade“, apoiado pelo edital Floresta Viva do Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (FUNBIO) e Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
Os SACEs são sistemas que integram restauração ecológica e produção agrícola, combinando espécies nativas do Cerrado com espécies agrícolas e frutíferas de interesse das famílias, em arranjos que valorizam a biodiversidade, a segurança alimentar e a geração de renda. Em vez de um modelo único, cada área está recebendo um desenho próprio, construído a partir da realidade produtiva e dos objetivos de cada família. A construção desses desenhos agrocerratenses é feita de forma participativa.
Supervisor de Restauração da RSC, João Carlos Pereira explicou que, em cada área, o sistema é planejado a partir da combinação entre plantas nativas do Cerrado, que ajudam na restauração da vegetação e o equilíbrio ecológico e cultivos agrícolas e frutíferos que garantem alimento e novas possibilidades de geração de renda para as famílias.
Segundo ele, além da parte técnica, a implantação dos sistemas vem ocorrendo em mutirões, envolvendo as famílias beneficiárias e a comunidade. “Esse formato favorece a troca de experiências, o aprendizado coletivo sobre técnicas de restauração e o fortalecimento de laços entre os agricultores”, salientou João Carlos Pereira.
Com o apoio técnico da RSC e a participação direta das agricultoras e agricultores familiares, 12 famílias assentadas irão receber os sistemas de restauração produtiva. Cada unidade contará com 0,5 hectare, somando 6 hectares de áreas degradadas em processo de recuperação. Neste ano, serão implantados três hectares e os demais em 2026.
Assentado pela reforma agrária e morador do Assentamento Oziel Alves, o agrônomo e técnico local do Projeto Sementes do Cerrado, Vinícius Santos Lima, destaca que a implantação dos SACEs no assentamento combina diferentes técnicas de restauração ecológica e manejo agroecológico. “Utilizamos algumas técnicas da restauração, por meio do preparo de solo e manejo de espécies exóticas e, no plantio, será usada a técnica de muvuca com semeadura direta, com a estratégia de garantir a maior cobertura do solo por meio de espécies nativas do estrato herbáceo”, explica.
Ele acrescenta que o trabalho em campo envolve semeadura direta com muvucas em linhas acompanhando o relevo e em berços, além da peletização de sementes com biomineralizantes e fitoprotetores naturais, práticas que favorecem o estabelecimento das plantas e a proteção das sementes em condições de campo. “Também estamos priorizando o uso de sementes crioulas certificadas, como os milhos Eldorado e Sol da Manhã, bem adaptados e produtivos para o Cerrado, e fortalecendo o protagonismo de frutas e gramíneas nativas do Cerrado, tanto com mudas quanto com sementes”, complementa Vinícius.
Bacia do Pipiripau
Reconhecido pela trajetória de resistência e inovação na agricultura familiar, o Assentamento Oziel Alves III está localizado na bacia do Ribeirão Pipiripau, área considerada estratégica para o abastecimento de água do Distrito Federal e reconhecida pela Unesco por sua alta vulnerabilidade hídrica. A restauração dessas áreas contribui diretamente para a proteção dos recursos hídricos, ao mesmo tempo em que fortalece sistemas produtivos.
Com a implantação dos SACEs, o projeto Sementes do Cerrado avança na construção de uma cadeia de restauração ecológica inclusiva, que valoriza os saberes locais, fortalece a agricultura familiar e reafirma o papel das comunidades como protagonistas na conservação do Cerrado.