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Painel na COP30 destaca importância da autonomia das comunidades na restauração socioambiental

Liderança feminina tem papel decisivo na continuidade das atividades e no fortalecimento da cadeia da restauração ecológica

Foto : Lia Domingues

A programação da COP30, em Belém (PA), recebeu nesta quarta-feira (19) o painel Sementes do Amanhã: Restauração ecológica e protagonismo comunitário na Amazônia, promovido pela Black Jaguar Foundation, que apoia a rede de sementes Ressemear articulado ao Redário. O encontro reuniu organizações que atuam na base da restauração ecológica com espécies nativas, com foco no fortalecimento de modelos liderados por comunidades locais. Participaram representantes Redário / Instituto Socioambiental e das redes articuladas Ressemear, Cerrado e Sementes do Paraíso.

Madalena Izabel Sousa Ferreira, coletora e restauradora da Rede Sementes do Paraíso, reforçou a importância de ser reconhecido o papel estratégico de coletoras e coletores na cadeia da restauração. Ela destacou que, embora a maioria das pessoas envolvidas na coleta seja dos territórios, o acesso a espaços de liderança ainda é restrito. 

“Muitas vezes as comunidades não lideram projetos e isso é uma dificuldade porque a gente deixa de ser autora. A gente recebe os projetos e a gente vira números desses projetos. Porque falam-se que os coletores, as comunidades são a base, mas a pirâmide está invertida. Eu vejo que as comunidades têm que ter essa autonomia”, ponderou.

Por outro lado, Madelena compartilhou exemplos concretos de como a restauração tem sido conduzida de forma realmente inclusiva, com processos que colocam as comunidades no centro das decisões e das ações. 

NÃO APENAS NÚMEROS – “A gente está agora participando de um projeto pela Araticum e pela Rede de Sementes do Cerrado, que é a restauração inclusiva. E somos nós, comunidades, que estamos fazendo a restauração. Então, nós propomos os projetos, temos a leitura da paisagem, montamos o projeto, fazemos a seleção dessas espécies e executamos. Então, para mim, começa com esse tipo. A gente passa a fazer parte, não ser apenas números”, acrescentou.

Ao refletir sobre os caminhos para fortalecer o protagonismo comunitário, ela ressaltou que a inclusão não se limita à participação técnica na restauração. Segundo Madalena, a valorização das comunidades precisa ser prática e contínua, garantindo condições reais para que coletoras e coletores permaneçam em seus territórios e tenham seu trabalho reconhecido de maneira justa. Ela destacou que é essencial ter um olhar verdadeiro para as comunidades e reforçou a importância de atuar em rede. “A gente faz parte do Redário e a gente é o Redário, porque essa articulação ajuda a organizar o coletivo e fortalecer nossa atuação. E não existe competitividade entre as redes, porque a gente acredita na força da coletividade”, concluiu.

PROTAGONISMO FEMININO – Kátia Demeda, técnica do Redário / Instituto Socioambiental, falou sobre o protagonismo feminino na restauração. Segundo ela, muitas mulheres são responsáveis por iniciar os processos de coleta, mobilizar suas famílias e demonstrar que a atividade pode gerar renda, qualidade de vida e fortalecimento comunitário. 

Kátia explicou que, dentro da cultura tradicional, as ações acontecem em família e a liderança feminina tem papel decisivo na continuidade das atividades. A cada mulher que mobiliza seus parentes, novas famílias entram na coleta, ampliando o volume de sementes e fortalecendo toda a cadeia da restauração ecológica.

O painel Sementes do Amanhã mostrou que a restauração ecológica avança quando comunidades lideram projetos, quando mulheres assumem posição central e quando redes colaborativas fortalecem a autonomia local. A discussão reforçou que restaurar ecossistemas significa também restaurar relações, garantir permanência no território e reconhecer quem sustenta, na prática, a transformação das paisagens.

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