Dando continuidade ao ciclo de debates promovidos pela Rede de Sementes do Cerrado (RSC), aconteceu na última terça-feira (7), mais um encontro virtual com a equipe de trabalho para falarmos sobre Diversidade e Interseccionalidade. A iniciativa é uma das ferramentas da Política de Gênero da instituição, e está alinhada ao projeto Governança Feminina, executado com o apoio do Fundo de Parceria para Ecossistemas Críticos (CEPF) e do Instituto Internacional de Educação do Brasil (IEB). O intuito é construir relações mais inclusivas tanto dentro da RSC quanto nos territórios onde ela atua.
A formação, conduzida pela consultora em inclusão e diversidade Mari Rosa, mergulhou em conceitos como preconceito, vieses inconscientes e discriminação. O preconceito é uma ideia pré-concebida, formada sem reflexão crítica, enquanto os vieses são crenças automáticas que moldam nossas decisões sem que percebamos. Já a discriminação é a materialização dessas ideias, a injustiça colocada em ação.
Outro tema destacado durante o encontro foi o capacitismo, que subjuga pessoas com deficiência a partir da ideia de um corpo padrão, bem como o machismo, que estrutura a desigualdade entre homens e mulheres e o racismo, um sistema de privilégios baseado na raça que se manifesta de forma estrutural, institucional e ambiental, afetando desproporcionalmente comunidades negras, indígenas e periféricas.
O racismo reverso também foi desmistificado, uma vez que este não existe, pois o racismo é um processo histórico e estrutural que confere poder e privilégios a um grupo hegemônico, algo que não ocorre de forma inversa.
Mari Rosa resumiu a abrangência da atividade. "A formação abordou conceitos fundamentais destacando como esses fatores perpetuam desigualdades estruturais. Falamos sobre racismo, machismo, capacitismo e LGBTfobia, e apresentamos o conceito de interseccionalidade, A interseccionalidade estuda como diferentes formas de opressão, como racismo, machismo, capacitismo e LGBTfobia, se entrelaçam e se reforçam mutuamente, criando experiências complexas de desigualdade e discriminação para diferentes grupos. A formação foi enriquecida por exemplos práticos e estratégias para combater comportamentos discriminatórios em diversos contextos”, disse.
Interseccionalidade
Um dos conceitos centrais do debate foi a interseccionalidade, criado pela jurista Kimberlé Crenshaw. A abordagem analisa como diferentes marcadores sociais como raça, gênero, classe, sexualidade e deficiência se sobrepõem, criando experiências únicas de exclusão. Uma mulher negra, por exemplo, não enfrenta apenas o racismo ou o machismo isoladamente, mas a intersecção de ambos.
Compreender essa sobreposição contribui para diferenciar conceitos como integração, equidade e inclusão. Enquanto a integração exige que a pessoa se adapte a um ambiente preexistente, a equidade reconhece que diferentes pessoas precisam de diferentes suportes para ter as mesmas oportunidades. A inclusão, por sua vez, é a equidade em ação com a criação de espaços que acolhem, valorizam e garantem a participação plena de todos.
Para Jimena Stringuetti, Coordenadora do Núcleo de Projetos da RSC, a reflexão deve ser contínua. "O treinamento reforçou a importância de manter viva a reflexão sobre gênero como construção social. Compreender o tema nos ajuda a reconhecer nossas próprias atitudes e o contexto em que estamos inseridos, o que é essencial para promover mudanças reais. Quando ampliamos o conhecimento, ganhamos ferramentas para agir com mais consciência, respeito e empatia, contribuindo para relações mais igualitárias e ambientes mais inclusivos", afirmou.
O encontro também ofereceu um guia de boas práticas para evitar a perpetuação de preconceitos, com orientações sobre o uso de linguagem respeitosa e inclusiva em relação a raça, deficiência, identidade de gênero e etnia.
Sobre o Projeto
A política de gênero e diversidade integra o projeto "Governança Feminina: ampliando espaços e fortalecendo mulheres na restauração do Cerrado", executado pela RSC com o apoio do Fundo de Parceria para Ecossistemas Críticos (CEPF), que tem o Instituto Internacional de Educação do Brasil (IEB) como equipe de implementação regional. O CEPF é uma iniciativa conjunta de diversas agências e governos globais que busca envolver a sociedade civil na conservação da biodiversidade. O IEB, por sua vez, atua para fortalecer os atores sociais na construção de uma sociedade justa e sustentável.
Publicado em 09/10/2025