As comunidades tradicionais desempenham um importante papel na conservação do meio ambiente, atuando como verdadeiros guardiões da natureza através de práticas agrícolas e agroextrativistas sustentáveis. Este compromisso com a conservação ambiental mantém a vegetação viva e assegura um futuro saudável para o planeta.
Os quilombolas, por exemplo, demonstram um profundo respeito pelo ciclo natural de reflorestamento. Quando realizam plantações, eles roçam a área na mata e utilizam o terreno por um período de três a cinco anos. Após esse tempo, abandonam o local e permitem que a vegetação se regenere, um processo que leva de 10 a 15 anos.
Estudos recentes reforçam a eficácia dessas práticas. O MapBiomas, uma iniciativa que monitora a cobertura e uso do solo no Brasil, revelou dados impressionantes sobre a conservação do Cerrado na comunidade Kalunga Vão do Moleque. Enquanto 48% do Cerrado no Brasil e cerca de 30% em Goiás estão conservados, o território quilombola Kalunga, com seus quase 262 mil hectares, apresenta uma preservação de 83% de sua área de Cerrado. Apenas 15% do território é utilizado para atividades agrícolas, evidenciando um equilíbrio harmonioso entre desenvolvimento e conservação.
Acadêmica do curso de jornalismo, Alcileia Torres explica que “a prática agroextrativista também reflete a sabedoria das comunidades tradicionais. Na coleta de frutos do Cerrado, os quilombolas exemplificam uma abordagem sustentável, colhendo no máximo seis frutos em cada dez. Este método garante que tanto a fauna quanto a flora locais tenham recursos suficientes para continuar o ciclo de reflorestamento. Os animais, ao ingerirem os frutos, espalham sementes através de suas fezes, enquanto os frutos deixados na natureza amadurecem, caem e se decompõem, permitindo que novas plantas cresçam”.
Essa visão vai além da simples extração de recursos naturais. Antes de pensar na economia ou no lucro, os quilombolas priorizam o futuro do meio ambiente, entendendo que a conservação é essencial para a sustentabilidade das gerações futuras.
A conservação do meio ambiente pelas comunidades tradicionais é uma prática diária e vital. Ao integrar a sabedoria ancestral com práticas modernas de sustentabilidade, elas mostram que é possível desenvolver atividades econômicas de forma a preservar e regenerar o meio ambiente. O exemplo dos quilombolas e de outras comunidades tradicionais é um modelo inspirador para políticas públicas e iniciativas privadas, ressaltando que a conservação ambiental e o desenvolvimento econômico podem e devem caminhar juntos.
Publicado em 05/06/2024