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    A sazonalidade natural do Cerrado e seus desafios para a restauração ecológica: o trabalho do Projeto Águas Cerratenses

    O Cerrado, conhecido como a savana brasileira, é um dos biomas mais biodiversos e ameaçados do planeta. Uma das características marcantes desse ecossistema é sua sazonalidade bem definida, com períodos de seca e de chuva que influenciam diretamente a vida das espécies e as atividades humanas na região. Com o reinício das atividades do Projeto Águas Cerratenses, o contexto da sazonalidade do Cerrado ganha destaque, revelando os desafios e as oportunidades no processo de restauração do bioma.

    No Cerrado, a sazonalidade se manifesta em um ciclo anual muito específico: um período seco de aproximadamente seis meses e um período de chuvas que, infelizmente, tem se tornado cada vez mais  irregular devido às mudanças climáticas. Essa dinâmica impõe desafios ao processo de restauração do solo e da vegetação, que precisam ser cuidadosamente planejados para aproveitar os momentos mais propícios para cada atividade.

    Com a iminência da chegada da estação chuvosa, o Projeto Águas Cerratenses: semear para brotar retoma suas atividades de preparo do solo para a restauração de áreas estratégicas em Alto Paraíso de Goiás, Planaltina de Goiás e São Domingos (GO). A coordenadora do projeto, Alba Cordeiro, explicou que o período seco, apesar de apresentar grandes desafios, também oferece uma janela importante para a preparação do solo. “Durante os períodos mais secos, as atividades de restauração precisam ser ajustadas para garantir a eficácia do manejo. É durante essa época que a preparação para o plantio se intensifica, aproveitando o solo seco para facilitar o uso do maquinário, evitando problemas como compactação ou atolamento", afirmou Alba.

    O preparo do solo é uma etapa que antecede a chegada das chuvas e a semeadura das espécies nativas. O solo aerado facilita a penetração das raízes e a absorção de nutrientes e água, fundamentais para o sucesso da regeneração natural. Esse trabalho de preparo é feito de maneira que o maquinário possa operar com eficiência, sem as complicações que a umidade do solo pode causar no período chuvoso. Com as primeiras chuvas, o solo já está em condições ideais para receber as sementes nativas, garantindo o estabelecimento das plantas que, por serem adaptadas ao Cerrado, conseguem sobreviver e prosperar nas condições específicas desse bioma.

    A sazonalidade também determina as espécies que são utilizadas no projeto. As plantas nativas do Cerrado são naturalmente adaptadas às suas condições extremas — secas prolongadas e chuvas intensas. Portanto, a escolha dessas espécies é fundamental para a eficácia da restauração, pois são elas que conseguem resistir às condições ambientais desafiadoras e, assim, garantir a continuidade da vegetação e dos processos ecológicos.

    Na Fazenda Hy Brasil, por exemplo, as atividades de restauração envolvem a abertura de linhas no solo e o controle de espécies exóticas invasoras, como destaca a gerente de restauração, Murielli Garcia. “Enquanto as sementes de árvores serão plantadas nas linhas, as espécies de capins e arbustos serão plantadas em área total. Essa técnica evita revolver o solo por completo, o que poderia reativar o banco de sementes de exóticas", explicou. Essas técnicas são cuidadosamente escolhidas para minimizar o impacto da restauração e assegurar que as espécies nativas possam se estabelecer e prosperar, contribuindo para o equilíbrio do ecossistema.

    No Parque Municipal do Preguiça, a retirada manual de capim exótico é uma  das estratégias adotadas para preparar o terreno para as espécies nativas. Já no Assentamento Flor da Serra, o trabalho de revolvimento do solo realizado no início do ano foi complementado com o controle químico pontual das rebrotas de capins exóticos. Todos esses esforços estão sincronizados com a sazonalidade do Cerrado, para garantir que cada atividade seja realizada no momento mais adequado, maximizando as chances de sucesso da restauração.

    Com o solo preparado e as chuvas previstas para intensificarem a partir de novembro, as áreas estarão prontas para receber as sementes. Essa fase do projeto é fundamental  para restaurar a vegetação nativa, bem como conservar os recursos hídricos e a biodiversidade do Cerrado. A sazonalidade, portanto, é uma aliada, que orienta as etapas de restauração de forma a aproveitar ao máximo as condições naturais do bioma.

    Respeitar a sazonalidade, ou seja, conhecer a ecologia de cada ecossistema, as interações solo, clima, e planta são fundamentais para a restauração efetiva. Por isso,utilizar técnicas que consideram as características específicas do bioma são estratégias fundamentais para assegurar que o Cerrado, com toda sua riqueza e diversidade, possa se regenerar e continuar desempenhando seu papel no equilíbrio ambiental do Brasil.

    Publicado em 04/10/2024

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