COP 30: Roda de conversa destaca a importância de reconhecer as sementes nativas como produtos da sociobiodiversidade
Discutir o papel das sementes nativas na restauração ecológica e na construção de uma bioeconomia mais justa e inclusiva, com ênfase na restauração protagonizada por comunidades locais, foi o objetivo da roda de conversa “Cerrado e Restauração: a coleta de sementes como vetor da sociobioeconomia”, realizada nesta terça-feira (11), na Casa da Sociobio, em Belém (PA), durante a COP 30.
Mediado por Anabele Gomes, representante da Araticum- Articulação pela Restauração do Cerrado, do Redário de Redes de Sementes e da Rede de Sementes do Cerrado (RSC), o evento reuniu vozes da sociedade civil, do governo e da iniciativa privada. “Foi um momento importante para ampliar as conexões entre diferentes elos da cadeia da restauração e fortalecer a visão das sementes nativas como base da sociobiodiversidade brasileira”, destacou Anabele Gomes.
Participaram do encontro Yasmin Tavares (Araticum), Maria Eduarda Camargo (RSC/Araticum), Fabrícia Santarém (Coletora Geraizeira, Araticum e Redário), Bárbara Pacheco (Verde Novo Sementes), Marília Viotti (Ministério do Meio Ambiente) e Louise Amand(Capitals Coalition) .
O diálogo também contou com a presença de Raphaela Aguiar, representante do Núcleo de Ecologia e Monitoramento Ambiental da Universidade Federal do Vale do São Francisco (NEMA/Univasf), que apresentou a Sociedade Brasileira da Restauração (SOBRE) e a Vitrine da Restauração, plataforma que mapeia e conecta iniciativas de restauração em todo o país.
As falas reforçaram um ponto comum: a restauração ecológica inclusiva tem sido um vetor essencial para a manutenção da cadeia das sementes nativas e das próprias comunidades que delas vivem. “O movimento da restauração inclusiva tem puxado a demanda das sementes dentro das comunidades. Em momentos de baixa no mercado, quem tem sustentado a coleta são as próprias comunidades envolvidas na restauração”, ressaltou Maria Eduarda Camargo, coordenadora do Núcleo de Restauração da RSC. “A semente é a base de tudo, é ela que garante a manutenção dos coletores, dos territórios e até de outras cadeias da sociobiodiversidade”, acrescentou.
Fabrícia Santarém, coletora e restauradora da Rede de Coletores Geraizeiros, compartilhou a importância da restauração para a permanência das atividades de coleta e para a valorização dos territórios tradicionais. Já Yasmin Tavares apresentou o olhar da Araticum sobre a restauração inclusiva, ressaltando o papel das redes na construção de soluções coletivas que unem conhecimento técnico e saberes tradicionais.
A semente como produto da sociobiodiversidade
Um dos principais pontos de convergência do debate foi o reconhecimento das sementes nativas como produto da sociobiodiversidade, um tema ainda pouco visível nas discussões sobre bioeconomia. “A semente é um produto estruturante. Ela não se encerra num ciclo simplesmente monetário. É regenerativa por si mesma. A semente se conecta à ancestralidade, à geração de renda, à emancipação territorial e à manutenção de saberes. Precisamos trazê-la para esse lugar”, ponderou Bárbara Pacheco, CEO da Verde Novo Sementes, ao reforçar que, sem ecossistemas restaurados, não há como sustentar outras cadeias produtivas da sociobiodiversidade.
O diálogo também abordou os desafios do financiamento da restauração. A representante do Ministério do Meio Ambiente, Marília Viotti, destacou o papel das políticas públicas e dos mecanismos financeiros no fortalecimento de iniciativas lideradas por comunidades locais. A conversa se estendeu a diferentes visões sobre como os recursos internacionais têm chegado ao Brasil e sob quais condições são aplicados.
O encontro foi marcado pela escuta e pelo reconhecimento da potência coletiva das redes de sementes na transformação dos territórios. Ao conectar experiências comunitárias, setor privado e políticas públicas, o evento mostrou que a restauração com sementes nativas é mais do que uma técnica ambiental: é um movimento social, econômico e cultural.